CONSELHO MUNICIPAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL
Ao oitavo dia do mês de agosto do ano de dois mil e vinte e dois, às dezenove horas e quarenta e cinco minutos, no Auditório A do Cine Teatro Ópera, Ponta Grossa, Paraná, inicia-se a reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural. Conforme Lei nº 13.694/2020, trata-se de uma Sessão Pública de Registro de Salvaguarda, com o objetivo de deliberar sobre a salvaguarda dos bens imateriais, no Município de Ponta Grossa, sendo eles: Banda Escola Lyra dos Campos, Artesanato em Palha e Devoção em torno do túmulo de Corina Portugal. Na impossibilidade da presença do Presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural, Alberto Schramm Portugal, por motivo de acidente, a reunião é presidida por sua suplente, Michelly Barszcz Moreira, Diretora Administrativa da Secretaria Municipal de Cultura, que realiza a chamada nominal dos conselheiros presentes, apresentando suas respectivas entidades: Secretaria Municipal de Infraestrutura e Planejamento, João Rafael Safonoff Ribeiro; Secretaria Municipal de Turismo, Márcia Maria Dropa; Secretaria Municipal de Educação, Cristina Donasolo; Departamento de Patrimônio Cultural, Brenda Ascheley de Morais Ferreira; Universidade Estadual de Ponta Grossa, Elizabeth Johansen; Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Ponta Grossa, Vicente Nadal Neto; OAB, Rubens Cesar Teles Florenzano; APPAC, Bianca Camargo Martins; Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico de Ponta Grossa, Bernardo Fonseca Marcondes; Grupo Ecológico dos Campos Gerais, Marco Aurélio Monteiro Pereira; ACIPG, Indianara Prestes Mattar Milleo; CREA-PG, Diego Spinardi; CAU-PR, Kathleen Coelho de Andrade Biassio; Conselho de Desenvolvimento Econômico, Rafael Lemos de Sousa; e Conventions & Visitors Bureau, Marcelo Guimarães Amaral. Para inclusão no Livro de Registro das Formas de Expressão, a Vice-Presidente convida o conselheiro relator, João Rafael Safonoff Ribeiro, para apresentar o parecer da Banda Escola Lyra dos Campos, em até dez minutos. Ele relata que “a tradicional, e nacionalmente conhecida, Banda Escola Lyra dos Campos, ou Banda Show Lyra dos Campos, assim chamada pelo saudoso Bépe e seus mais carinhosos fãs, iniciou suas atividades no subsolo da Prefeitura de Ponta Grossa e completou setenta anos de existência e história em dois mil e vinte e dois, sempre presente nos grandes e importantes eventos da nossa cidade e região dos Campos Gerais, também, e principalmente, envolvendo a comunidade, com sua primeira finalidade, que é sem dúvida, e obviamente, ensinar e formar jovens à musicalidade. Sua primeira apresentação aconteceu em vinte e nove de maio de mil, novecentos e cinquenta e quatro, aqui no Cine Teatro Ópera; eram dezesseis músicos e teve como regente o também fundador, Maestro Tenente Paulino Martins Alves, nascido em Palmeira no final do século XIX. Sempre histórica e marcando presença nos principais desfiles da nossa querida cidade, como o de sete de setembro, que se comemora a Independência do Brasil, mas principalmente também dando a sua animada musicalidade para homenagear a fundação da cidade de Ponta Grossa em todos os dias quinze de setembro, desde o ano de cinquenta e quatro. A também popularmente e carinhosamente chamada de ‘Bandinha’, iniciou sua trajetória, e com todos esses méritos e glórias, tornou-se patrimônio cultural da cidade de Ponta Grossa. A Banda está dividida em duas unidades, a Escola da Banda e a Banda de Música; na Escola da Banda, hoje com trinta e cinco alunos escolhidos por testes seletivos, de aptidão musical, são ministradas aulas de teoria musical, execução de instrumentos e noções de disciplina. Na Banda de Música, hoje com quarenta e sete músicos, são ministradas aulas de teoria musical de ótimo nível, proporcionando um aprendizado que lhes oferece condições para prestar concursos em instituições musicais militares, inclusive na Banda Sinfônica da Marinha tem ex-alunos da nossa querida Banda Escola. A Banda possui dois projetos próprios: ‘A Banda nas Escolas’, que consiste em apresentações didáticas em todas as escolas da rede municipal de ensino, e o projeto ‘Solidariedade’, onde a Banda faz apresentações em instituições beneficentes. Em setenta anos de história são muitos feitos e participações históricas, tanto municipais, quanto estaduais, importantes, impossíveis de numerá-los, e se tentássemos, com certeza acabaríamos sendo injustos com muitos feitos. Mesmo resumindo ao máximo, apresento-lhes a Banda Escola Lyra dos Campos e peço que o pedido de salvaguarda seja aprovado. Obrigado”. Na sequência, a Vice-Presidente convida o maestro Sérgio Murilo Moreira de Oliveira para representar a Banda Escola Lyra dos Campos, em até dez minutos. Ele relata que “nada melhor que as palavras de um músico, para iniciar uma história sobre música. Parafraseando Raul Seixas ‘sonho que se sonha só, é só um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade’, e assim nasceu a Banda Escola Lyra dos Campos, de um sonho partilhado por muitos, que começou no dia quatorze de julho de mil, novecentos e cinquenta e dois, com uma carta do subtenente reformado Agenor Veiga, sugerindo à Câmara Municipal de Ponta Grossa a criação de uma Banda de Música Municipal. Continuou com o vereador Guilherme Augusto Knechtel, responsável pelo projeto de lei que seria aprovado no dia vinte e dois de novembro de mil, novecentos e cinquenta e dois, dando origem à Banda Escola Lyra dos Campos; mas ainda faltava um elemento fundamental, um maestro. Convidado pela Câmara Municipal, o tenente Paulino Martins Alves foi o grande responsável pelo início desse sonho, ao qual, hoje, todos nós damos sequência. Foi ele o responsável por adquirir, com verbas disponibilizadas pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, os primeiros instrumentos, bem como por ministrar as aulas e formar os primeiros integrantes da Banda Escola Lyra dos Campos, jovens de origem humilde, que, por sua pouca idade, acabariam por ganhar da comunidade princesina o carinhoso apelido de ‘Bandinha’. Bandinha, que de pequena, só tem o apelido, logo começaria a se destacar, sendo campeã do primeiro Concurso Paranaense de Bandas Civis e Militares, realizado na capital do estado em mil, novecentos e cinquenta e oito; mas a grande vitória da nossa querida Bandinha não se encontra nos inúmeros troféus ganhos desde então. A Banda Escola Lyra dos Campos desempenha um papel social, que leva o nome da cidade de Ponta Grossa a todo Brasil, como referência na formação de bons músicos e bons cidadãos”. Ele relata, ainda, que sua história é muito parecida com a dos mais de mil músicos que passaram pela Banda Escola Lyra dos Campos nos últimos setenta anos. Pois faz parte da Banda desde seus doze anos de idade, inspirado por seu irmão, que também foi integrante, e tem muita honra em chegar ao cargo de maestro, tendo iniciado como aluno. Acrescenta que a função da Banda não se limita a ensinar música ou levar música aos quatro cantos da cidade, às escolas e às comunidades carentes, pois possui, também, uma função social, oferecendo oportunidades, ensinando valores, proporcionando novas amizades, formando bons músicos e, principalmente, formando bons seres humanos, de valor e seriedade. Após a apresentação do parecer, a Vice-Presidente esclarece que os conselheiros já foram representados pelo relator João Rafael, sendo assim, é passada a palavra à comunidade, por um prazo de dez minutos, compartilhados. A conselheira Elizabeth Johansen se manifesta, não à comunidade, mas aos conselheiros. Ela relata que, com relação aos três bens culturais apresentados, na última reunião, com a possibilidade de registro, fez alguns apontamentos, desta vez, melhor estruturados. Ela acrescenta que em nenhum momento questiona a validade de qualquer um desses bens culturais como patrimônio imaterial, seja a Banda, seja o túmulo da Corina Portugal, seja o Artesanato em Palha. “No entanto, eu continuo questionando a forma com que isso está sendo feito. Pra poder explicar eu trouxe as informações pra vocês. Com o decreto número três mil, quinhentos e cinquenta e um, de quatro de agosto de dois mil, foi instituído o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial na esfera federal, e criado o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, mas não conceituou, ou explicou, o que era patrimônio imaterial. Somente com a Resolução número um, de três de agosto de dois mil e seis do IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Governo Federal Brasileiro explicou o que é patrimônio imaterial. São criações culturais, de caráter dinâmico e processual, fundadas na tradição, manifestadas por indivíduos ou grupos de indivíduos, como expressão de sua identidade cultural e social, significando práticas produtivas, rituais e simbólicas, que são constantemente reiteradas, transformadas, mantendo para o grupo um vínculo do presente com o seu passado. Primeira atividade é identificar o bem passível de registro, na sequência, a competência é de produção de conhecimento sobre o bem. O que que são esses conhecimentos? Documentar, pelos meios técnicos mais adequados, o passado e o presente da manifestação e suas diferentes versões, tornando essas informações amplamente acessíveis ao público. Os valores culturais não são criados pelo poder público, mas pela sociedade. Compete ao poder público declarar, proteger e possibilitar a sua manutenção com um plano de salvaguarda, que é a transmissão do conhecimento para novas gerações. Porque que eu estou falando tudo isso; porque nós vamos ouvir diferentes pareceres, nós ouvimos o primeiro, que foi o da Banda e que, tanto o parecer, que já trouxe uma série de informações que não nos foram apresentadas na última reunião, assim como, a fala do maestro, que diferentes aspectos do texto que é legal, ele apresentou? Ou seja, ele falou em identidade, em identificação, que é o que efetiva um patrimônio cultural. Ele falou a tradição da própria banda nos setenta anos, ou seja, são setenta anos de pontagrossenses, e outros, que vieram pra cá vivenciando a banda, isso é patrimônio cultural. Quando ele falou da atividade, da formação, da função social, isso é patrimônio cultural. Então porque que eu estou falando isso pra vocês, pra referendar a Banda Escola Lyra dos Campos como patrimônio imaterial, mas principalmente pra que nós conselheiros tenhamos ciência, consciência, de que um processo de registro não é, a bel prazer, político, se não, qualquer processo de tombamento de um imóvel também poderia ser, a bel prazer, político, e nós sabemos que não é assim. Então, nos compete não tratar de forma superficial, um bem imaterial, só porque ele não está vinculado ao mercado imobiliário, porque ele não custa alguns milhares de reais, ou alguns milhões de reais, mas ele custa, ou ele representa, a nossa identidade enquanto ponta-grossense. Então eu solicito, que tendo esse embasamento, nós, conselheiros, possamos analisar esses três bens culturais, passíveis de serem reconhecidos como patrimônio; se não nessa sessão, que seja no futuro, com um bom embasamento, muito obrigada”. Compartilhando o tempo de fala previsto para a comunidade, o Sr. Rafael Schoenherr, acrescenta que, independentemente da questão técnica, gostaria de aproveitar a ocasião da sessão, pra saudar e ressaltar o apreço a cada um dos músicos, que se apresentaram, incluindo o maestro, porque eles também representam gerações de uma tradição que veio se estabelecendo. O conselheiro ressalta a fala do maestro sobre o acesso à música, sobretudo como um espaço de cidadania, “acho que muitos de nós, muitos que estão aqui, vêm para apreciar a Banda Lyra, como em outros eventos, mas também pra lembrar o seu período no momento em que ele reconheceu, pela primeira vez, a Lyra dos Campos. No meu caso também foi assim, ainda como músico, o meu professor era instrumentista, era músico da Lyra dos Campos, na época eles chamavam de professor Carlos Taques, um músico que fez trajetória, a partir da Lyra dos Campos. Então, lembrar desse fator de descentralização cultural, importantíssimo, da Lyra dos Campos, que além de formar músicos, esses músicos lá formados, passam a ser formadores em outras esferas, em outras escolas, em outras bandas, cumprindo com o papel de excelência em gerenciar a música a partir desta perspectiva da cidadania. Então, é o acesso à música, tanto pros músicos, mas também para as plateias. […] a Lyra dos Campos ao longo destas décadas tem assumido esse papel de formação de plateia nos mais distintos bairros e eventos. Então, nesse sentido, também os músicos muito nos representam. Por fim, só como sugestão mesmo, como encaminhamento pra apreciação posterior, que realmente pode ser num outro momento do conselho, ou em outra sessão; como o patrimônio imaterial envolve realmente a necessidade de registros, por vezes isso se dá com acervos, com fotografias, com audiovisual, e nesse sentido quero, deixar aqui totalmente disponível pra adoração da secretaria, a colaboração e parceria do curso de Jornalismo da UEPG, Departamento de Jornalismo, mestrado em jornalismo. […] vocês se apresentando eu fiquei lembrando do primeiro maestro que eu conheci da Lyra dos Campos, como eu não sou tão antigo, foi o Sr. Alceu, eu acho que ele une várias dessas memórias que estão espalhadas aí, de músicos, alguns que como vocês, seguiram pela carreira, outros que não seguiram, e outros que foram pra outros caminhos, mas que mesmo assim, a música desempenhou um papel fundamental de formação de um determinado período. Por fim, registro também que parte do acervo do Museu Campos Gerais é composto por instrumentos musicais, muitos sabem, que advém da Orquestra Sinfônica, mas que também advém, entre outras bandas, das famosas Jazz Bands, também uma parte que a gente conserva com muito carinho, porque representa essa história, essa trajetória da Lyra dos Campos. Muito obrigado”. Ainda complementando o tempo de fala previsto à plateia, o Sr. Osmar, que é musicólogo, com doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pede a palavra para agradecer e parabenizar a Banda Lyra e o maestro, pois, quando integrante da Banda Filarmônica do Rio de Janeiro, tocou com quatro integrantes que fizeram parte da Banda Lyra e eram formados pelo Conservatório de Música. Ele acrescenta que, no meio musical, Ponta Grossa tem fama de música e que, em sua opinião, tornar a Banda Lyra um patrimônio é de extrema importância para a cultura da cidade. Na sequência a vice-presidente procede a votação para a salvaguarda da Banda Escola Lyra dos Campos, sendo deferida por unanimidade entre os conselheiros presentes. Dando continuidade, para inclusão no Livro de Registro de Saberes, a vice-presidente convida a conselheira relatora, Márcia Maria Dropa, para apresentar o parecer referente ao Artesanato em Palha, em até dez minutos. Ela relata que “uma variedade muito grande de objetos pode ser definida como artesanato, são produtos do fazer humano; destaque no emprego de ferramentas e não de máquinas, uma vez que o artesão usa suas próprias mãos. A história do artesanato em palha em Ponta Grossa é uma história de sujeitos; mulheres que acreditaram em uma ideia e nunca a abandonaram; é uma história de luta, convencimento, mudanças, retornos, força, fraqueza, lucro, prejuízo, vontade, desânimo, acreditar, mas nunca a palavra desistência fez parte da história do Artesanato em Palha. Por que a arte em palha pode ser caracterizada como um patrimônio cultural imaterial em Ponta Grossa? Temos que começar pela vida econômica da cidade. A produção de milho sempre esteve presente na economia histórica de Ponta Grossa, na alimentação do gado e na famosa produção da farinha de fubá, importante ingrediente na fabricação de pães. Era comum a população se dirigir até a Cooperativa Mista 26 de Outubro, que pertencia à Rede Ferroviária, para comprar o produto a granel, ou então, até à Estação Paraná, para adquirir o produto antes do embarque para a exportação. Utilizado o milho em grãos, a palha passa também a ter um pequeno mercado, seja na confecção de colchões, na embalagem da pamonha e da rapadura, na transformação de alimentos para outros animais, nos famosos cigarros de palha e, mais recentemente, nos enfeites de festa junina ou festas de colonos. Mesmo com a produção em grande escala do trigo, o fubá ainda faz parte da mesa de muitos ponta-grossenses, e a palha, utilizada em outras realizações cotidianas, ganha uma nova importância; é a transformação da palha em arte, em vida, em histórias, em enfeites, enfim, em cultura. E como tudo começou em Ponta Grossa? Em uma rápida contextualização histórica, podemos localizar a produção artesanal em palha de milho na cidade de Rio Negro, Paraná, e na Colônia Witmarsun, em Palmeira. De fato, não foi aqui em Ponta Grossa que esse tipo de arte começou, porém, aqui se fortaleceu e ganhou novas formas, vinculadas à nossa história, lendas e causos. Uma senhora, Adelaide de Siqueira Kotecki, ao conhecer essa produção nos locais citados, se encantou. Eu tenho o prazer de dizer que eu conheci a Dona Adelaide, acompanhei um pouco desta história. Ela se encontrou no artesanato novo, com uma referência que ela tinha em casa. Essa é a boneca de palha que a Dona Adelaide tinha herdado de sua avó, é uma boneca de mais ou menos cento e trinta anos. Até me emocionei quando eu vi essa bonequinha. Ela se encantou com essa profissão e foi procurar aprender a fazer a arte em palha. Participou do primeiro curso proporcionado pelo Estado do Paraná, pelo SENAR, pelo PROVOPAR. Esse curso, aonde a Dona Adelaide aprendeu, foi dado por Doralice, que é a primeira artesã em palha do Paraná, que morava em Rio Negro. Adelaide, pioneira, detentora da arte do saber e fazer, trouxe para Ponta Grossa a vontade, o incentivo e o início da produção. Incentivada pelo presidente da Casa do Artesão, na época o Senhor Valdir Becher, começou a divulgar este trabalho, conseguindo motivar as senhoras Odete de Paula e Maria Eugênia Zuraski. Juntas, começaram a se aperfeiçoar, seguindo as características apreendidas e, também, nas trocas de informações, buscar e escolher a palha nos diferentes sítios e chácaras, nos arredores de Ponta Grossa. Sim, escolher, pois não era qualquer peça retirada da espiga que se prestava à manipulação. Escolhendo, limpando e manipulando com as mãos, as primeiras peças foram surgindo, mesmo que ainda de forma um pouco acanhadas, isso tudo por volta de mil, novecentos e noventa e sete, e mil, novecentos e noventa e oito. Porém, a evolução da qualidade das peças produzidas chamou atenção e o trabalho das pioneiras teve seu lançamento oficial na Exposição Feira Agropecuária, a EFAPI, em dois mil. Vale ressaltar que a produção não se vinculou somente a bonecas e bonecos, ou santos, mas buscaram a diversificação agregando a história e a geografia da cidade em suas peças. O pinheiro, a pombinha, a casca do pinhão, a gralha azul, o próprio sabugo do milho feito em palha, entre outros, e com a divulgação dos trabalhos novas pessoas foram se interessando e em dois mil e dois, vinte e cinco mulheres estavam engajadas no projeto de artesanato em palha. Com a entrada de novos membros no grupo, começaram a criação de novos objetos e novos aperfeiçoamentos daquilo que já estava sendo elaborado, como por exemplo a pombinha com a lenda de Ponta Grossa, o porta-caneta, o tropeiro, a princesa dos campos e a Nossa Senhora de Santana. Passando por dificuldades, não foi fácil a trajetória dessas mulheres, passando por dificuldade, inclusive local para produção, o grande grupo se desfez. Algumas, em número de seis, insistiram na continuidade, então Dona Adelaide abriu sua residência pra continuar esse trabalho. Da casa, eles ganharam um novo espaço, em uma das salas da Galeria do Edifício Princesa na Praça Barão do Rio Branco. Local difícil em função do pequeno espaço e da umidade. Apesar de em menor número e das dificuldades, o grupo nunca se desfez e permaneceu neste local por dez anos. Continuou produzindo e encontrando mercado, é o momento em que o Turismo começa a se fortalecer na cidade, e as feiras, salões, exposições, congressos, se transformam em um novo ramo de visibilidade das artesãs. O grupo foi realocado, novamente, na Concha Acústica, mas como o espaço era muito pequeno, na ocasião foram transferidas para a Casa da Praça, que no período também era uma lojinha, e também um Centro de Informações Turísticas. Restaurada a Concha Acústica, em dois mil e dezenove, patrimônio tombado de Ponta Grossa, a sede da Casa do Artesão foi realocada no local e as artesãs ganharam seu espaço, artesãs nesse caso, da arte de transformação da palha de milho. Local mais apropriado para a produção e exposição, o artesanato em palha de milho se fortaleceu. Novas peças de criação, adequadas aos aspectos culturais do município, sempre aos aspectos culturais do município. Atualmente somente três artesãs realizam este trabalho. Com amor, dedicação, criatividade e busca de referenciar, em suas peças, a memória e a identidade de ser ponta-grossense. Com duas delas, tive o prazer de passar um tempo conversando sobre esta questão. […] Odete de Paula, pioneira na arte de palha, que por seu olhar demonstra o carinho e emoção no significado de pegar a palha bruta e transformar num São Francisco. Maria Eugênia Suraski, pioneira junto com Odete e Adelaide. Wanderli do Rocio dos Santos Bachinski, que está no grupo desde dois mil e dois, minha porta voz na construção dessa pequena história, afirma que ‘o artesanato em palha faz parte da minha vida. Desde a infância gostava de artes, de criar coisas diferentes, e a palha foi minha realização’. Houve muitas mulheres que aprenderam a arte, mas pararam. Encontraram dificuldade e desistiram, mas as três persistiram com o trabalho minucioso que evoluiu com o tempo. Acreditamos que com o Projeto Raízes, Sou PG e o reconhecimento do trabalho delas como Patrimônio Cultural de Ponta Grossa, traga de novo as antigas artesãs e incentivem cada vez mais novas artesãs e produções. O Espírito Santo tem suas Paneleiras de Goiabeiras; a Bahia, suas baianas do Acarajé; e Ponta Grossa pode ter suas Mulheres na Arte da Palha. Que bom que esse tipo de artesanato, que teve uma trajetória difícil e tão empolgante, e com mulheres com vontade de aprender e não desistir, será registrada como um patrimônio imaterial. Assim espero. Se pensarmos que a imaterialidade só se sustenta na materialidade, o artesanato em palha, produzido e sustentado por
quem acreditou ser possível saber e fazer, com maestria, a cultura intangível de Ponta Grossa será homenageada e perpetuada com tão importante referencial de identidade, memória e pertencimento. Das mãos dos pequenos, da criatividade de mentes abertas, da singeleza da arte produzida e da luta de manutenção, se constrói a história local. Não somente baseada na estrutura grande dos edifícios, mas sim, no imaginário de quem faz e no imaginário de quem adquire. Pelas mãos das três artesãs, Odete, Vanderli e Maria Eugênia, pioneiras, que ainda continuam e vão continuar por muito tempo no caminho de produzir, perpetuamos a memória de uma importante e fundamental mulher, na luta pelo artesanato em palha, de qualidade, em Ponta Grossa, a Sr.ª Adelaide. Solicito assim, aos demais conselheiros o voto favorável ao registro de salvaguarda do Artesanato em Palha de Ponta Grossa. É o parecer. É o meu voto”. Na sequência é passada a palavra à artesã Wanderli do Rocio dos Santos Bachinski, para representar o Artesanato em Palha, em até dez minutos. Ela afirma que possui muita história sobre artesanato para contar, mas que, considerando o pouco tempo, vai se ater no grupo da palha. Ela acrescenta que o grupo iniciou com várias artesãs, do qual não participou desde seu início, mas quando entrou, entrou de “corpo e alma”. Ela afirma que o grupo, hoje pequeno, só não se acabou porque “agrega todos os valores que a gente tem no coração, pra expor, através do nosso artesanato na palha. É nosso coração que está ali; as nossas mãos trabalham, mas é o nosso coração que resume. Não é através de palavras que eu vou poder expressar o que a gente consegue expressar fazendo, porque nas palavras eu não sou muito boa mesmo, eu tenho sentimentos que eu não consigo expressar, mas através da nossa fiação, pegar uma palha, que é uma matéria-prima bruta, transformar e poder construir uma imagem, um santo, uma pombinha, escrever a lenda, é tudo o que existe de bom, pra nós, artesãs”. Ela acrescenta que já teve contato com vários tipos de artesanato, nem que fosse simplesmente para aprender, mas que o Artesanato em Palha foi um projeto, em que estudos foram realizados, a fim de que representasse, piamente, a história da cidade. Ela explica que, a cada convite para participar de um novo projeto, o grupo se dedica, realiza pesquisas e busca transformar o que é proposto pelo projeto, à identidade e expressão do grupo. Acrescenta que o grupo não quer somente se manter com o artesanato, mas sim crescer, e para isso é necessário o apoio da comunidade em geral, através de parcerias e de um maior acesso à matéria-prima, possibilitando mais tempo para dedicação à confecção das peças artesanais. Ela explica que grande parte dos materiais utilizados para a confecção das peças, muitas vezes, são descartados pelas pessoas, por este motivo, destaca a importância do conhecimento do artesanato em palha pelas futuras gerações e de que este trabalho faça parte da cultura e da história de Ponta Grossa. Ela esclarece que teria muita coisa para falar sobre este trabalho que faz parte de sua vida e de sua história, assim como de todas as artesãs que fazem parte do grupo, entretanto, diante de tanta emoção por fazer parte deste momento tão importante, ela resume que seu desejo é que as futuras gerações se inspirem no trabalho realizado pelo grupo, crescendo, prosperando futuramente e sendo conhecido por todos, pois já existem peças enviadas para a Alemanha e Inglaterra, sendo muito valorizadas internacionalmente. Por fim, ela pede aos conselheiros que votem com o coração. Na sequência é passada a palavra à comunidade, por dez minutos. O conselheiro Marco Aurélio Pereira registra seu apreço pela luta daqueles que “pegam o saber popular, aquele saber feito com a mão, aquele saber feito com o coração, e não deixam que ele morra”; com relação à fala da professora Johansen, no momento da votação da Banda Lyra, que “o patrimônio imaterial, tem algumas características, o artesanato cumpre essas características, mas apresenta um desafio. O desafio não é apenas as artesãs se consolidarem, se ampliarem, de cada vez mais se aprimorarem na arte que produzem, mas um desafio de tornar isso que nós estamos prestes a chamar de patrimônio imaterial da nossa cidade, alguma coisa que perpasse o cotidiano, que perpasse a vida, que perpasse a identidade do ser ponta-grossense. Eu recordo, na década de setenta, quando eu tive o privilégio de trabalhar na Secretaria Estadual de Cultura, que o governo federal lançou o programa chamado Prodarte, Programa de Desenvolvimento da Arte e da Educação, que foi o responsável, pela recuperação do artesanato na região da Baía de Paranaguá e no litoral do Paraná; com a recuperação do artesanato em cerâmica; pela recuperação das cestarias; pela recuperação dos grupos de fandangos. […] nós temos aqui representantes da Secretaria de Cultura, representantes da Secretaria de Educação, da Universidade, da UTFPR, de várias agências e tutoras de desenvolvimento, de representação de classe, porque o artesanato sobrevive com apoios, se nós deixarmos vocês [artesãs] às suas próprias forças, isso vai se esvair e morrer. Isso nos representa, se nós vamos votar em quem nos representa, nós assumimos implicitamente o compromisso moral de consolidarmos isso; […] de usarmos a riqueza de espaços que a Secretaria de Cultura tem construído. Nunca é demais os parabéns que a gente dá à esta gestão, que realmente é diferenciada na construção de espaços de cultura na cidade, pra que esses espaços não sejam apenas espaços pra artesãos trabalharem, mas um espaço de multiplicação do conhecimento, do ensino e da socialização desse artesanato. Vocês estão de parabéns, meu voto é claramente a favor, mas com a ressalva de que nós estamos diante de um desafio do compromisso de todos que votam a favor, pra que isso não fique restrito a dez pessoas”. Ainda, compartilhando os dez minutos de manifestação da comunidade, a Sr.ª Maria Luiza Cortes Cavazotti, atual presidente da Casa do Artesão, agradece as manifestações de todos e afirma que “estas três artesãs tem um respaldo significativo de mais de vinte novas artesãs da Casa do Artesão. Nós acreditamos que a professora que colocou alguns questionamentos científicos da necessidade da salvaguarda como patrimônio histórico, e cientificamente aprovada, até pela UNESCO, pela ONU, a importância disso, eu queria só dizer e ressaltar, ela disse que tem que ser dinâmico, processual, que tem que ter expressão, tem que ter práticas produtivas, que tem que ser constante e crescente, como um passo, do passado e uma ideia do futuro; assumimos sim, o compromisso sempre, da história de mais de vinte anos, ao qual eu não fazia parte, mas eu faço parte da história atual e como presente e como futuro, nós arregaçamos as mangas e dizemos e reforçamos, o que a Wanderly, o que a Odete, e o que a Maria, trouxe até hoje, que nós cremos na produção do conhecimento do imaterial, nós cremos na versão de que declarar, proteger e salvaguardar do que nós estamos à frente, pode ter certeza, orgulha uma paulista como eu, orgulha muitos, como disse a Wanderly, que levam, quando vem dos Estados Unidos, quando vem de outros países, que hoje ponta-grossenses olham e dizem, ‘que prazer levar uma Sagrada Família no pinhãozinho’. […] Me orgulho de defender isso nessa noite, e espero ter registrado o quanto, eu como mulher, e homens e mulheres podem se sentir protegidos na salvaguarda do artesanato da Casa do Artesão, protegida pelo Conselho Municipal de Cultura, pelo Conselho de Turismo e tantas outras e outros, que acreditam em nós. Muito obrigada”. Sem mais manifestações, a Vice-Presidente procede a votação para a salvaguarda do Artesanato em Palha, sendo deferida por quatorze votos favoráveis e dois contrários. Na sequência, para inclusão no Livro de Registro dos Lugares, a vice-presidente convida a conselheira relatora, Jeanine Migliorini, para apresentar o parecer referente à Devoção em Torno do Túmulo de Corina Portugal, em até dez minutos. A relatora inicia sua fala com o conceito sobre Patrimônio Imaterial: “a Constituição Federal de mil, novecentos e oitenta e oito, define patrimônio material, e imaterial, em seu artigo duzentos e dezesseis: constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. Em dois mil e três a Unesco, no artigo segundo da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial descreve como patrimônio cultural imaterial: as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas, junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados; que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. Reforçando o que a conselheira Elizabeth colocou, nós temos o decreto que institui o registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e na sequência a Resolução número um, do IPHAN, que define o patrimônio imaterial por bem cultural de natureza imaterial as criações populares, de caráter dinâmico e processual, fundadas na tradição e manifestadas por indivíduos, ou grupos de indivíduos, como expressão de sua identidade cultural e social. Um pouquinho sobre a história de Corina Portugal; conhecemos a história de Corina através da história oral, da tradição popular, dos muitos devotos que diariamente frequentam seu túmulo atrás de graças ou para agradecer as já recebidas, também através dos textos do Dr. Josué Corrêa Fernandes, que escreve Corina Portugal, uma história de sangue e luz e do capítulo do livro de Dione Navarro, Corina Portugal, ‘Súplicas e Respostas’, que conta a história da jovem. O texto a seguir baseia-se nos relatos encontrados nessas obras. Corina Antonieta Portugal nasceu em dezessete de janeiro de mil, oitocentos e sessenta e nove no Rio de Janeiro, filha de médico, perdeu a mãe aos três anos, a avó passou a criá-la e após a morte dessa, uma tia materna cuida da educação de Corina. Aos quinze anos um novo vizinho, Alfredo Marques de Campos, farmacêutico, onze anos mais velho, chama atenção da menina e mesmo com a resistência inicial da família os dois iniciam um relacionamento. Casam-se, com separação total de bens, exigência do pai de Corina, o que desagrada o marido. Logo começam a se desentender. Alfredo tem um irmão comerciante, que mora em Curitiba, e o convida para vir para Ponta Grossa, onde não haviam farmacêuticos formados. O casal se muda para a cidade, em uma casa alugada, nas proximidades da Igreja Matriz. Alfredo conhece o médico, Dr. João de Menezes Dória, com quem desenvolve uma parceria. O farmacêutico frequentava assiduamente os jogos de cartas, onde perdia grandes quantias em dinheiro, consumia muita bebida alcóolica e era assíduo nos prostíbulos de Ponta Grossa e Castro. Voltava para casa embriagado e culpava Corina por não terem dinheiro suficiente, uma vez que ela possuía bens no Rio de Janeiro, logo, iniciaram as agressões contra a esposa. Perde o estoque da farmácia no jogo e quando retorna para casa, encontra Corina deitada na cama e a esfaqueia trinta e duas vezes. Sai de casa, vai até a casa do médico e avisa que tinha acontecido alguma coisa muito grave, o médico vai atender, junto com outras três pessoas, mas encontra Corina já morta, isso aconteceu em vinte e seis de abril de mil, oitocentos e oitenta e nove. O Dr. Vicente Machado assume a defesa de Alfredo e logo espalha-se a notícia de que o crime ocorreu por Corina e o médico João Dória terem um romance, então a justificativa era a defesa da honra, o que era aceito na época. A população divide-se e o médico, apesar de se defender, precisa mudar para Curitiba, de onde não retorna mais, pois passa a ser ameaçado. O fato é que havia uma disputa política entre João Dória e Vicente Machado, o que seria um crime passional adquire outra esfera. Apesar do esclarecimento dos fatos por testemunhas o julgamento acontece e Alfredo Marques de Campos é inocentado por unanimidade, pela morte da esposa. Mais tarde muda-se para Minas Gerais e acaba por suicidar-se. Posteriormente o pai de Corina desloca-se do Rio de Janeiro para Ponta Grossa e traz consigo as cartas da filha, que novamente desmentiam a versão do marido, pois narravam toda angústia e sofrimento vividos por ela nos últimos anos. Logo iniciam as visitas ao túmulo de Corina, por pessoas com problemas diversos, mais de um século depois de sua morte já é conhecida como “Santinha dos Campos Gerais”. Devoção em torno do túmulo de Corina Portugal, o túmulo de Corina se encontra no Cemitério Municipal São José, é uma construção simples, mas repleta de plaquinhas de agradecimento pelas graças recebidas, por flores variadas, pela capelinha sempre com velas acessas, e não são poucas. Os relatos dos devotos são muitos, alguns encontrados em livros, em reportagens de jornais e revistas. No dia a dia, não faltam pessoas para contar os milagres que a ‘Santinha’ já realizou. Basta ficar um tempo próximo ao seu túmulo para se deparar com pessoas que param para rezar, agradecer, pedir a intercessão em seus pedidos. As plaquinhas de agradecimento se espalham por todas as laterais do túmulo, constantemente se renovam, uma vez que vândalos retiram algumas, mas sempre tem outro devoto pronto para agradecer e novamente ocupar aquele espaço tão precioso. Segundo Dione Navarro a placa mais antiga remonta o ano de mil novecentos e quarenta e cinco e se estendem até as datas atuais. Além das plaquinhas, é comum encontrar pequenos bilhetes encaixados entre as placas, cartas nas proximidades do túmulo, ou ainda, fieis que pintam o túmulo para mantê-lo, como forma de agradecimento. Essa é apenas uma das manifestações populares que demonstram a devoção à Corina. Os fatos que demonstram a relevância dessa manifestação podem ser encontrados em diferentes esferas, e representam variados grupos sociais da cidade. Vários são os meios de comunicação que apresentam e divulgam esses acontecimentos. Entre eles, a radionovela transmitida pela rádio Difusora em dois mil e doze, que narrava a trajetória de Corina, baseada no livro de Josué Fernandes, já citado. Em dois mil e dez, a lei dez mil duzentos e dezenove decreta a denominação da Casa de Abrigo para Mulheres Vítimas de Violência de Ponta Grossa como Corina Portugal. Em dois mil e quinze o Grupo de Teatro Paré apresenta uma peça que narra essa história. Trabalhos acadêmicos adotam essa temática em diferentes vertentes, uma vez que se trata de uma manifestação cultural local. Outras manifestações populares acontecem na forma da divulgação da oração à Corina Portugal, constantemente encontrada em seu túmulo, com a solicitação de que sejam feitas cem cópias da oração após a graça recebida. Poemas, textos e música que narram essa história, bem como as graças e milagres por ela atendidos, também são encontrados. Na atualidade nota-se que a devoção toma maiores proporções, pois as ações em prol de Corina não param. Existe um projeto para o Memorial Corina Portugal, desenvolvido pelo arquiteto Roberto Pietrobelli Christensen, com a intenção de criar um espaço de contemplação e devoção, que está em processo de aprovação na Prefeitura Municipal de Ponta Grossa. Além de estudos para restauro do túmulo, que busca uma solução para abrir espaço para as placas de agradecimento serem instaladas pelos fiéis. Paralelamente às manifestações iniciou-se um processo, junto à Igreja Católica, apoiado pelo Bispo Dom Sérgio Arthur Braschi, de designar Corina como ‘serva de Deus’, primeira etapa em um futuro processo de beatificação. Nota-se que a devoção à Corina Portugal é uma manifestação genuinamente popular, representa diferentes grupos socias da cidade, e cresce à medida que o tempo passa, corroborando com a definição de patrimônio imaterial, que define por bem cultural de natureza imaterial as criações culturais de caráter dinâmico e processual, fundadas na tradição e manifestadas por indivíduos ou grupos de indivíduos como expressão de sua identidade cultural e social. Entende-se que esse processo de reconhecimento como bem imaterial de Ponta Grossa é o início de uma história que engrandece nossa cultura, reforça as ações já iniciadas em prol da devoção e abre espaço para ampliação dessas e outras que virão. Por sua manifestação ao longo do tempo, transmitido de forma oral e informal, fixado à tradição local; por representar forte referência cultural ponta-grossense, incorporando pessoas de diversidade social é que apresento parecer favorável ao tombamento da ‘Devoção em torno do túmulo de Corina Portugal’, como bem patrimonial imaterial de Ponta Grossa e peço que os demais conselheiros votem favoráveis a esse parecer”. A vice-presidente convida a senhora Dione Navarro para representar a devoção em torno do túmulo de Corina Portugal, em até dez minutos. Dione agradece a Secretaria Municipal de Cultura pela oportunidade em falar sobre Corina Portugal, “que nos remete à fé, que muda destinos; a fé que reescreve novas histórias de vida; mas eu não estou aqui só pra falar de fé, eu estou aqui pra falar de memórias, de histórias; história da nossa gente; histórias, que se não forem registradas, se não forem guardadas, se não forem perpetuadas, se perdem no tempo. O túmulo de Corina Portugal nos remete a histórias de um povo em aflição. Tem muitos devotos que enxergam ali como o último alento para as suas vidas e desesperos. A minha trajetória com Corina Portugal não teve um acervo religioso, teve um perfil de pesquisa. Eu, como professora da UEPG, sempre fui uma pesquisadora, onde qualquer situação tem que ser experimentada, quantificada e comprovada. Quando eu vi o túmulo de Corina Portugal pela primeira vez, eu fui tomada por uma onda de ceticismo. Como pesquisadora eu me perguntei, tantas plaquinhas de agradecimento, tantas flores, dezenas de vasos todos os dias, independentemente de ser finados ou qualquer data do calendário religioso, sempre cheio, o que é isso? É autossugestão? É subjetivismo? E ali eu resolvi ficar três anos na porta do cemitério, conversando com seus devotos, pra entender o motivo de tanta movimentação em volta daquele túmulo. Dessa pesquisa surgiu esse livro, ‘Corina Portugal: Súplicas e Respostas’, onde além da história dela, tem oitenta depoimentos de graças recebidas. Que graças? Sentenças de morte, de alguém que estava com uma doença terminal, e pediu auxílio de Corina Portugal, e depois vários clínicos mostram as mudanças fisiológicas, e não pode ser autossugestão, e não pode ser subjetivismo. Jovens, que conseguiram sair dos abismos das drogas; famílias, onde o alcoolismo é o maior vilão; e a violência doméstica era no convívio que se cometia e essas esposas desesperadas foram até Corina, suplicaram e, de volta à família, foram atendidas. Pessoas que emocionam quando contam o sonho que elas tinham de ter um pedacinho de chão, de ter a sua casa própria e foram atendidas. Pessoas que a aposentadoria não saía, que elas não sabiam mais como iam pagar as suas dívidas, pediram e foram atendidas. Estão, neste livro, os oitenta depoimentos, a partir daí, eu resolvi dar continuidade a esta pesquisa, porque eu via naquele santuário, não somente a perspectiva da santidade, mas um lugar de encontro, um lugar de troca de vivências, onde pessoas buscavam fios de esperança, buscavam certezas, buscavam o desejo de amanhãs diferentes e aí, eu escrevi mais um livro. O segundo livro de Corina Portugal, que ainda não foi lançado, provavelmente vai ser até o final do ano, onde tem mais de cem depoimentos de graças recebidas; e conforme eu fui convivendo com esses devotos, me emocionando com eles, com as histórias transformadoras da vida deles, Corina Portugal foi alçando os limites geográficos da nossa cidade. Muitas vezes eu entrevistei pessoas, principalmente em finados, que vieram de outras cidades, de outros estados, pra agradecer ou pedir. E esses limites geográficos, eles não ficaram restritos só aqui, ao nosso Brasil; ele tomou voos muito maiores e chegou ao vaticano. Há quatro anos atrás uma devota de Corina Portugal me procurou, dizendo que ia passar as férias na Europa, e ela gostaria de levar um livro de Corina pra deixar no Vaticano. Eu até brinquei com ela, você acha que o Papa vai se dar o trabalho de pegar um livro de uma cidadezinha do Brasil, do Paraná, que é um ponto no mapa, e ela levou, e seis meses depois eu recebi uma carta do Papa, aonde ele dizia; ‘Eu abençoo as famílias de Ponta Grossa, eu abençoo a cidade de Ponta Grossa, por existir uma devoção a uma possível santidade espiritual’, […] Eu pergunto pra vocês, se o nosso Papa, nossa santidade, reconhece a possível santidade da nossa Corina Portugal, porque nós pontagrossenses não perpetuamos isso. Obrigada”. A vice-presidente passa a palavra à comunidade, por dez minutos. O Sr. Wilton Paz, que faz parte do Conselho Municipal de Política Cultural e acadêmico de Artes Visuais, relata que é nascido em Ponta Grossa e que sua mãe, também devota de Corina Portugal, sendo casada por vinte e cinco anos com seu pai, vítima do alcoolismo, fez com que ele, sua mãe, e seus irmãos fossem vítimas de violência doméstica. Ele salienta sobre a questão do feminicídio e sobre a importância da valorização e proteção da mulher. Ele lamenta sobre a avenida principal da cidade não levar o nome de Avenida Corina Portugal, mas sim o nome do advogado de defesa de seu assassino. Sem mais manifestações, a Vice-Presidente procede a votação para a salvaguarda da Devoção em torno do túmulo de Corina Portugal, sendo deferida por unanimidade entre os conselheiros presentes. Em nome do Presidente do conselho, Alberto Schramm Portugal, a vice-presidente agradece ao COMPAC por reconhecer e garantir a perpetuação da história, da memória e do rico patrimônio da cidade de Ponta Grossa, declarando encerrada a sessão. Encerrada a Sessão, foi lavrada a presente ata que, após lida e achada conforme, vai assinada pelos presentes. Do qual eu, Carolyne Abilhôa, faço contar e dou fé.
Bernardo Fonseca Marcondes________________________________________________
Bianca Camargo Martins____________________________________________________
Brenda Ascheley de Morais Ferreira___________________________________________
Carolyne Abilhôa __________________________________________________________
Cleverson Cabreira_________________________________________________________
Cristina Donasolo__________________________________________________________
Diego Spinardi____________________________________________________________
Elizabeth Johansen________________________________________________________
Indianara Prestes Mattar Milleo_______________________________________________
João Rafael Safonoff Ribeiro_________________________________________________
Johnny Willian Pinto________________________________________________________
Kathleen Alessandra Coelho de Andrade Villela de Biassio_________________________
Lorran Dyowany Jasluk de Melo_______________________________________________
Marcelo Guimarães Amaral___________________________________________________
Márcia Maria Dropa________________________________________________________
Marco Aurélio Monteiro Pereira________________________________________________
Michelly Barszcz Moreira______________________________________________________
Paula Fernanda Rodrigues Gonçalves___________________________________________
Rafael Lemos de Sousa______________________________________________________
Rubens Cesar Teles Florenzano________________________________________________
Vicente Nadal Neto__________________________________________________________