ATA DA SESSÃO PÚBLICA DE TOMBAMENTO DATADA DE 30/05/2022

CONSELHO MUNICIPAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL

Ao trigésimo dia do mês de maio do ano de dois mil e vinte e dois, às dezenove horas e vinte minutos, em segunda convocação, no Auditório A do Cine Teatro Ópera, Ponta Grossa, Paraná, inicia-se a reunião do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural. Conforme Lei nº 8.431/2005, trata-se de uma Sessão Pública de Tombamento, com o objetivo de deliberar sobre o tombamento definitivo dos imóveis localizados no Município de Ponta Grossa, sendo eles: Praça Marechal Floriano Peixoto; Rua Sete de Setembro, nº 1.287 e Rua Theodoro Rosas, nº 64. Antes de iniciar os trabalhos, o presidente propõe um minuto de silêncio em memória de Mário Roberto Stinghen, que deixou este plano no dia onze de maio, tendo atuado, bravamente, como conselheiro do Patrimônio Cultural, na luta pela manutenção e na preservação da cultura local. O Presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural, Alberto Schramm Portugal, realiza a chamada nominal dos conselheiros presentes, apresentando suas respectivas entidades:  Secretaria Municipal de Cultura, Alberto Schramm Portugal; Secretaria Municipal de Turismo, Márcia Maria Dropa; Secretaria Municipal de Educação, Cristina Donasolo; Departamento de Patrimônio Cultural/SMC, Brenda Ascheley de Morais Ferreira; Universidade Estadual de Ponta Grossa, Elizabeth Johansen; Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Ponta Grossa, Vicente Nadal Neto; APPAC, Bianca Camargo Martins; Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico de Ponta Grossa, Bernardo Fonseca Marcondes; Câmara de Dirigentes Lojistas, Antonio Carlos de Mario; CRECI-PG, Elton Fabio Pietrochinski; CAU-PR, Kathleen Coelho de Andrade Biassio; e Conselho de Desenvolvimento Econômico, Rafael Lemos de Sousa. Ficam justificadas as ausências dos conselheiros: Indianara Prestes Mattar Milléo e Leonardo Puppi Bernardi, da ACIPG; Alecssandra Catarina Horbatiuk Hypolito e Marcelo Guimarães Amaral, do Conventions & Visitors Bureau; e Marco Aurélio Monteiro Pereira e Leonel Brizola Monastirsky, do Grupo Ecológico dos Campos Gerais. O Presidente registra e agradece a presença dos co-Vereadores Guilherme Mazer e Ana Paula; Sr. Carlos Mendes Fontes Neto, representante do Grupo Sherlock Holmes; da Sra. Neusa Mansani, Presidente da Academia de Letras dos Campos Gerais; e do Sr. Luiz Carlos Kloster, representante do Grupo Preserva Ponta Grossa. O Presidente inicia a primeira deliberação da sessão, referente ao imóvel Praça Marechal Floriano Peixoto, passando a palavra à conselheira Márcia Maria Dropa, relatora do presente processo, que apresenta as argumentações; “Ao entrar em contato pela primeira vez com o trabalho do Professor Ulpiano Bezerra de Meneses, uma frase de seu texto me chamou atenção e ficou gravada na memória, que diz, ‘analisar a cidade é, também, analisar a imagem desta cidade’. A cidade deve ser vista como a expressão da cultura de um povo. No espaço urbano as marcas da história ficam muito claras, seja no traçado de suas ruas, na arquitetura de seus edifícios, no conjunto de seus quarteirões e na projeção de suas praças. Ao observar uma cidade e as pessoas, o que se vê, é a expressão da cultura, de sua maneira de se organizar, isso significa que uma cidade ou um espaço urbano é um tipo de escrita, uma espécie de texto que se pode ler. Qualquer que tenha sido seu processo evolutivo, uma cidade guarda fragmentos que permitem sua leitura. Toda cidade tem a marca da presença do homem, por meio de suas construções, seu modo de vida, sua maneira de adaptar velhos padrões a novas atitudes. Qualquer parte de um ambiente urbano, seja um quarteirão, uma praça, um edifício, possui um significado mais representativo do que somente seus valores materiais. São elementos que simbolizam a relação entre o lugar e seus habitantes. Uma cidade, no entanto, sofre transformações, não é um bem imóvel, mas dinâmico, que constantemente se altera. E neste processo de transformação, as casas, os objetos arquitetônicos, as praças, são as palavras que a História vai deixando na cidade; e nesse contexto se insere a Praça Marechal Floriano Peixoto, como testemunha viva da história, por sua importância no contexto de origem, crescimento e desenvolvimento de Ponta Grossa. Vejamos, a origem de Ponta Grossa está ligada o Tropeirismo; surgiu como um pouso do Caminho das Tropas. Com seu crescimento, em 15 de setembro de 1823, foi elevada à categoria de Freguesia e na colina, atual praça, foi erguida a primeira capela de madeira em devoção à Senhora Sant’Ana, e onde diversos moradores começaram a construir suas casas, o comércio começou a se intensificar e a praça passa a ser a irradiadora de uma vida social, cultural, política, educacional e econômica. Em seu entorno surgiram o primeiro mercado público, o primeiro Grupo Escolar nº 2 de Ponta Grossa, já que o primeiro tinha sido em Curitiba; Casa da Câmara e Cadeia; posteriormente o Fórum da Comarca de Ponta Grossa; um dos primeiros sobrados da cidade, atualmente conhecido como Prédio da Proex; a residência de Domingos Ferreira Pinto, o Barão de Guaraúna, que inclusive recepcionou o então Imperador do Brasil D. Pedro II, quando aqui esteve em visita; o Clube Pontagrossense; o Bar Asa Branca; e assim por diante. O local era conhecido como Largo da Matriz, e com o advento da República, passou a ser chamada oficialmente de Praça Marechal Floriano Peixoto. Local das diferentes realizações cívicas, e inclusive judiciais, da cidade, leia-se o julgamento pela morte de Corina Portugal; espaço recreativo para as crianças das vizinhanças; local de festas religiosas, como a homenagem à Senhora de Sant’Ana, em julho, e que movimentava toda a comunidade em uma festa democrática, que toda população de Ponta Grossa participava. Apresentações de manifestações folclóricas e religiosas como as cavalhadas e congadas; retretas e cantatas no Coreto; namoros e paqueras nas saídas das missas; e outras manifestações religiosas. Sorrisos quando da saída de batizados, casamentos realizados na Igreja Matriz. Lágrimas e tristeza quando das missas de falecimento. Saídas de procissões nas noites frias de julho em homenagem à Nossa Senhora de Sant’Ana; tudo isso acontecia na Praça. Atualmente em seu entorno imediato temos duas edificações tombadas como Patrimônio Cultural do Paraná, a saber, o Prédio do Antigo Fórum e o Prédio da Proex; com tombamento municipal, o Bar Asa Branca. No seu interior encontra-se o Monumento em homenagem aos fundadores de Ponta Grossa; Monumento ao Sesquicentenário de Ponta Grossa; Monumento à Bíblia e o Marco Zero, para dizer alguns. A Praça Marechal Floriano Peixoto ainda mantém seu desenho original, com calçadas, jardins e canteiros. Seu tombamento foi solicitado pelo Grupo Sherlock Holmes, que tem a preocupação e interesse na preservação da praça como um importante marco referencial da cidade. Vale destacar que o Grupo hoje é reconhecido como um importante instrumento na manutenção de referenciais que escrevem a história da cidade; grupo conhecido não só em Ponta Grossa, mas que alargou suas fronteiras para um público nacional e internacional, e vendo o processo de descaracterização da praça, solicitou ao conselho o seu tombamento. A praça foi mutilada no decorrer dos anos? Sim. Monumentos e obeliscos diferentes foram construídos, demolidos e/ou substituídos, por diferentes administrações municipais e que acredito terem sido justificadas na época; mas a sua preservação por meio do tombamento pode resguardar e evitar novas mutilações, e quem sabe, com o apelo da comunidade, transformá-la novamente no espaço onde convergem as realizações comunitárias que é um direito de todos. Nossa querida Praça da Catedral, nossa querida Praça da Matriz, você vai além da manifestação arquitetônica de pedra e cal, você não possui um estilo definido, mas é, sem dúvida, a mescla de estilo de pessoas, de comemorações, de circulação, de permanência, de ausência, de identidade, de pertencimento e de memória cultural, afetiva e de amor por Ponta Grossa. Pelo exposto, solicito aos demais conselheiros o voto favorável ao tombamento da Praça Marechal Floriano Peixoto. É o relato, e é o voto”. O Presidente informa que se tratar de um processo que não houve impugnação e passa a palavra aos presentes, para que se manifestem por um tempo máximo de dez minutos, compartilhados entre os inscritos. A Sra. Neusa Mansani informa que está representando o Grupo Sherlock Holmes Cultura, que há tempo vem resgatando as memórias históricas de Ponta Grossa e que já localizaram um bom número de objetos e de outros pertences da história de Ponta Grossa. Ela agradece pelas palavras da professora Márcia, por suas colocações, por sua contextualização. Ela acrescenta que “pra mim isso é um trabalho que venho pensando sempre. Eu sou uma pessoa que me dediquei a vida toda à educação, à cultura e à preservação da nossa história. Nós só seremos, no futuro, uma cidade reconhecidamente moral e esteticamente colocada, se respeitarmos o passado, porque é o passado que nos faz enxergar o presente e, nessa relação, partir para o futuro. Então o que que acontece com a nossa praça, já aconteceu com a nossa igreja. Vocês estão vendo ali, isso é uma tristeza pra nós ponta-grossenses; se você viaja pelo Brasil, ou se você viaja pelo mundo, você vai encontrar e admirar todas essas edificações, que lá estão, conservadas, admiradas, e a nossa não existe mais; e eu sou da época que acompanhei essa discussão, enfim, que nós perdemos e eu não tenho receio nenhum de dizer aqui que foi politicamente que a coisa aconteceu. Muitos cidadãos se posicionaram, mas enfim, a gente não conseguiu, ela foi demolida e nós, do [grupo] Sherlock, procuramos, já, alguns objetos, imagens e outras coisas que desapareceram com a demolição da igreja. Para que as novas gerações saibam […] nós munícipes, nós que nascemos aqui, nós que construímos a cidade, deixamos isso acontecer; e a praça é uma outra questão. A praça, infelizmente, está deteriorada, hoje está descaracterizada por uma série de questões. Nós temos duas construções de madeira dentro da praça, onde são vendidas bebidas, onde as pessoas ficam […] eu tenho passado por lá e tenho visto garrafas, latas, e isso é uma coisa que me dói na alma. Eu não vejo mais a cultura, a educação, […] mas existem coisas que não tem nada a ver com a praça. A justificativa é sempre que não funciona, só em Ponta Grossa não funciona fonte, não funciona espelho d’água, mas enfim, o que a gente gostaria é que nesses duzentos anos de Ponta Grossa, nós pudéssemos dar um grito e dizer: olha a nossa praça. […] Mas pra isso, ela precisa ser tombada. Então gente, fica aí o meu apelo, o meu sentimento, como cidadã ponta-grossense, como membro do Sherlock Holmes, como professora, que ama minha cidade. Espero que os jovens, que aí estão, gravem isso e procurem prestar atenção na história. Nós só existimos porque existiu história”. Na sequência, é passada a palavra ao Sr. Carlos Mendes Fontes Neto, que faz a seguinte consideração; “O espaço público, aqui em Ponta Grossa, se tornou um espaço bastante importante, pela dificuldade que se tem de se preservar o patrimônio edificado que nós tínhamos, muito pouco se sobrou e o espaço público, ele deve funcionar até como exemplo pra preservação. Como nós não temos o centro histórico, como as cidades têm, que são explorados turisticamente, nós temos que preservar as nossas praças, nossos principais espaços, ainda razoavelmente originais da cidade, como uma forma de manter as nossas características, da nossa identidade, e impedir, com o tombamento, que sejam feitas descaracterizações, explorações comerciais, como está sendo feito na praça da catedral. Eu agradeço ao conselho, aos conselheiros. Que tratem com carinho esse tombamento”. Sem mais manifestações, o Presidente procede a votação para o tombamento definitivo da Praça Marechal Floriano Peixoto, sendo aprovado por unanimidade entre os doze conselheiros presentes. O Presidente apresenta o segundo imóvel da pauta, a residência Família Gorte, situada na rua Sete de Setembro, nº 1287. Ele convida a conselheira relatora, professora Jeanine Mafra Migliorini, para apresentar o relato. Ela relata que fez uma apresentação para contextualizar do que vem a ser esse estilo arquitetônico da casa em questão, da casa da família Gorte, que é uma casa que se destaca na paisagem da cidade. “A arquitetura, antes de tudo, ela é uma expressão social, ela é uma forma da população se manifestar e que fica registrado no espaço físico, no espaço construído. Então, quando a arquitetura marca, forma uma identidade da cidade, a gente tem que entender que há uma presença realmente muito grande, de um determinado período e a importância disso na paisagem. Como a professora disse, uma paisagem se faz através da sua história, nós não reconheceríamos uma cidade, se nela não estivessem os elementos da história. Então, cada período da história precisa estar representado na paisagem; a gente não pode selecionar um determinado período, e os outros deixar de lado. Mas qual que é a idade, a partir de que momento que uma edificação tem que ser tombada? A partir do momento que ela tem relevância história, isso não é porque a casa tem cem anos, se ela não tem essa relevância, então isso é uma coisa que a gente tem que considerar bastante. Além disso, a arquitetura era como uma simbologia muito forte, quando a gente diz que ela representa, não só, um período histórico, mas ela representa ideais e nesse caso, especificamente, a arquitetura modernista tem um ideal muito interessante pra ser apresentado. A arquitetura moderna, num modo geral, no mundo, ela vai começar já no século passado e ela vai ter diversas identidades, dependendo de determinados lugares do mundo. A arquitetura moderna, ela não é um conjunto que tenha o mesmo resultado físico, as edificações não são todas iguais em todos os lugares do mundo, mas elas têm ideais em comum e esses ideais são discutidos em congressos de arquitetura. Então, é muito válido entender que este processo é um processo mundial, não é um processo apenas local, mas que vai repercutir e vai nos colocar no mundo, diante disso. Entre 1920 e 1940 isso vai acontecer no Brasil, especificamente. Os arquitetos vão começar a ter contato com arquitetos de fora do Brasil e vão começar a entender o que é pra fazer. Então, isso também é repercussão da Semana da Arte Moderna de 1922, quando os artistas se reuniam pra mostrar a identidade nacional, a gente já não queria mais viver dessa forma, […] a gente queria o que é nosso, o que que tem a nossa cara, a nossa identidade, então, a arquitetura começa estudando isso. A primeira edificação modernista do Brasil […] é no Rio de Janeiro, Edifício Capanema. […] Essa modificação, especificamente, ela vai ser candidata de um grupo de arquitetos que tem Le Corbusier, que é uma das maiores referências mundiais da arquitetura, como um tutor desse grupo; então, Le Corbusier vem para o Brasil e vai acabar influenciando a Escola Nacional de Belas Artes, os seus alunos, e o resultado disso vai começar com o Prédio do Ministério da Educação e Saúde. Tem o reconhecimento de uma equipe internacional; na arquitetura, em determinado momento, o Brasil era entendido, fora daqui, como o país do café e da arquitetura, então a nossa arquitetura brasileira, ela é bastante significativa”. Ela acrescenta que as características desta arquitetura, que a difere das anteriores, é que “o primeiro grande movimento da arquitetura com a arquitetura da Grécia, vai acontecer na arquitetura modernista, pela forma como as pessoas entendiam os espaços e analisavam. Nesse momento a gente estava numa revolução industrial, que modificou a vida de todo mundo, e a função da edificação começa a ser questionada, então, a arquitetura, busca a partir daí o equilíbrio entre a forma e a função. A função precisa ser realmente eficiente, e a arte e a técnica, […] técnicas construtivas, principalmente concreto armado, vão se estabelecer na arquitetura como um marco de grandes mudanças”. Ela acrescenta que a arquitetura modernista, no Paraná, vai iniciar com projetos de Kirchgassner, sendo a primeira casa em Curitiba; posteriormente surgem outros profissionais, dentre eles João Batista Vilanova Artigas, que nasce em Curitiba, tem parentes em Ponta Grossa, onde possui projetos. Ela afirma que a arquitetura modernista brasileira é dividida em duas escolas, a carioca e a paulista; a carioca representada por Niemayer, e a paulista representada pelo Artigas. Outros nomes reconhecidos nacionalmente, e que são paranaenses, são Cornelsen, Rubens Meister, Elgson Ribeiro Gomes e Osvaldo Bratke. A primeira edificação modernista em Ponta Grossa foi a residência da família Álvaro Correia de Sá, em 1949, de Vilanova Artigas, hoje totalmente descaracterizada. Entre 1950 e 1970, em Ponta Grossa, houve um grande avanço desta arquitetura, começando num período em que a cidade teve um desenvolvimento econômico muito proeminente, já se posicionando como a capital da soja. As pessoas iam estudar fora de Ponta Grossa, principalmente médicos e advogados, e quando ao retornarem, voltam com essa arquitetura entendida como uma representação de identidade e começam a investir na arquitetura modernista, além dos industriais e dos empresários da cidade. Os destaques desta arquitetura são as linhas retas; os pilotis, que são os pilares; os pans de verres, que são os panos de vidro; telhados planos; revestimentos de pedras; cobogós; pastilhas; volumes trapezoidais; e jardins. Em Ponta Grossa, em registros de 1963, houve a verticalização desta arquitetura com os edifícios Bamerindus e Marieta. Com relação ao imóvel em questão, da Família Gorte, é um exemplar bastante significativo, que possui praticamente todos os elementos desta arquitetura; tendo como diferencial o tamanho pequeno de seu terreno, pois a arquitetura modernista foi pensada para grandes terrenos, para que as casas estivessem livres”. Findo o prazo de apresentação do parecer, o Presidente informa que a família não apresentou recurso ao processo de tombamento. Neste momento, é passada a palavra à plateia, por um tempo máximo de dez minutos, compartilhados. A professora Gabriela acrescenta que, além de todos os motivos apresentados pela professora Jeanine sobre as casas modernistas, também é de extrema relevância lembrar que o conjunto dessas edificações marca um momento em que Ponta Grossa “desejava ser como uma grande cidade, como uma cidade moderna.” Ressaltar que “não é a data de construção que afirma sua importância para ser tombada, ou não; exemplo disso é o Conjunto da Pampulha, que projeta Oscar Niemeyer para o mundo, e que foi tombado com apenas dez anos depois de sua construção; e o Plano Piloto, da cidade de Brasília, que reconhece o Brasil como um grande item de desenvolvimento e de um país moderno, é reconhecido como patrimônio mundial da humanidade apenas vinte anos após sua construção; sendo assim, a presença da residência em pauta, dentro deste processo de tombamento, é extremamente relevante Ponta Grossa, pois ela apresenta todos os elementos que marcaram esse movimento, e traz a identidade moderna que se buscava construir para a sociedade desta época.” Em seguida, a conselheira Kathleen afirma que a professora Jeanine apresentou os aspectos relevantes da arquitetura do imóvel, assim como a professora Gabriela, e ressalta que não se deve cometer os mesmos erros, assim como a perda da catedral; também a única residência projetada pelo arquiteto Vilanova Artigas; espera que se possa reconhecer a primeira casa tombada da arquitetura modernista em Ponta Grossa, pois mesmo sendo menor, ela representa todos os elementos com uma riqueza estética de detalhes, já citados pela conselheira relatora. Na sequência, é passada a palavra a um acadêmico, que afirma que não se pode perder um patrimônio como este, pois a visita realizada em num imóvel como este, como tantos elementos e especificidades, torna a educação muito mais interessante, tanto para os estudantes de história, arquitetura e geografia, trazendo muito orgulho para a cidade de Ponta Grossa. Na sequência, o Presidente procede a votação para o tombamento do imóvel situado à Rua Sete de Setembro, nº 1.287, sendo aprovado por onze votos favoráveis e um contrário, sendo imposto o Grau de Proteção 2, que diz respeito a edifícios de importância histórica e/ou arquitetônica relevantes para o conjunto urbano, os quais ao longo dos anos sofreram alterações em suas características particulares, perfeitamente passíveis de restauração, que restituirá a concepção do edifício, devendo ser mantidos integralmente os aspectos particulares de sua concepção, a partir desta data, admitindo-se, porém, intervenções internas condizentes com o caráter do edifício. O Presidente registra a saída do conselheiro Antonio Carlos de Mário, ficando o conselho com onze conselheiros presentes. Ele acrescenta, ainda, que, se mais algum conselheiro precisar se retirar, a sessão fica cancelada por falta de quórum para instalação. Na sequência o Presidente inicia a apresentação do imóvel Casa com Lambrequim, da Família Chemim, situado à Rua Theodoro Rosas, nº 64. O Presidente passa a palavra à conselheira relatora, Bianca Camargo Martins. Ela relata que “a Casa Amarela, residência de madeira, localizada na área central de Ponta Grossa, caracteriza-se como um dos melhores exemplos da arquitetura de casas de madeira do Brasil, sobretudo do estado do Paraná, que ainda se encontram em boas condições construtivas. A casa marca uma época em que Ponta Grossa tinha em seu quadro urbano residências com características de Vila: jardins, pomar, poço, quintal, estrutura avarandada, espaço para criação de animais domésticos, entre outros. Os poloneses foram uma das mais influentes correntes na história da imigração no território paranaense, trazendo a tradição do uso da madeira para as suas construções. Porém, as técnicas construtivas foram adaptadas, visto que os imigrantes não encontraram os mesmos materiais e as mesmas ferramentas existentes em seu país de origem, fazendo das cidades paranaenses espaços com uma arquitetura singular e rica. As técnicas construtivas desenvolvidas e a utilização de cores fortes nas fachadas fizeram com que a tipologia arquitetônica com influência polonesa ficasse conhecida como ‘casa de polaco’, com implantação transversal em relação ao terreno, varanda e a entrada principal ao centro desta. A tipologia é complementada pelo telhado de inclinação alta que abriga o sótão e um prolongamento da cobertura, onde se localiza a cozinha, varanda rendilhada e lambrequins, elementos feitos a partir da madeira ou zinco, elementos próprios da arquitetura do imigrante. A arquitetura de madeira foi amplamente utilizada na região dos Campos Gerais, pois, aqui havia grande quantidade de matéria prima que, na época, se considerava inesgotável, grande número de serrarias, grande disponibilidade de mão de obra. Além disso, outra justificativa para a grande difusão das casas de madeira na região era o acesso democrático à matéria prima. Tanto ricos e pobres tinham meios de adquirir a matéria prima necessária sendo que a distinção entre classes acontecia pelo tamanho das residências e pelo refino do acabamento. Sobre o histórico da Casa Amarela, em 1926, o Álbum do Paraná cita que ‘a famosa cidade de Ponta Grossa, não tem grande número de logradouros públicos, mas possui parques amenos e aprazíveis onde a comunidade pode descansar e divertir seu espírito das auguras da luta pela existência’. Tal citação refere-se ao parque, então organizado pelo Capitão Luiz Silva na Chácara Labor, que atualmente, em função da expansão urbana, restringe-se a Casa Amarela. O Capitão Luiz Silva nasceu em Guarapuava em 1856, filho de João José Fernandes da Silva e Rita Fernandes da Silva. Foi casado com Maria Capote e Silva e teve 12 filhos. Quando veio morar em Ponta Grossa, dedicou-se ao comércio e criou a Chácara Labor. O Capitão foi homem público, exerceu o cargo de tesoureiro municipal e prestou serviços às administrações dos prefeitos Theodoro Rosas, Dr. Abrahão Glasser e Cap. Brasilio Ribas. A Chácara Labor era um parque que possuía um opulento pomar, cortado pelo Arroio Pilão de Pedra. Segundo o Álbum citado, era o local onde se encontrava frutas nacionais e estrangeiras de Ponta Grossa. A família morou e manteve a Chácara por muitos anos. Porém, com o crescimento da zona urbana, a propriedade foi paulatinamente sendo adquirida pelo Governo Municipal para a implantação de novas ruas. Além disso, o arroio Pilão de Pedra foi canalizado. Na década de 1970, a hoje conhecida como Casa Amarela foi adquirida pela família de Mercedes Gaspar Chemin, que manteve por quase sessenta anos as características arquitetônicas e de utilização do espaço. O parecer que solicitou a retirada da residência do Inventário Cultural expôs que a residência ‘está prestes a ruir’. Porém, além de não ter nenhum parecer técnico que comprove tal fato, a afirmação vai contra o que pode ser observado por qualquer pessoa. Trata-se de uma residência em boas condições de conservação. Cabe, aqui, salientar que o mesmo documento apresenta fotos de pequenos detalhes da residência que precisam de manutenção e apresenta orçamentos que, sem um levantamento de danos, não embasam a afirmação de que a casa está ruindo. Além disso, é importante ressaltar que parte do espólio é favorável ao tombamento da residência e, aqui, eu peço licença pra ler um trecho da mensagem de um dos integrantes da família proprietária da casa. ‘Que fique claro que esta minha manifestação favorável ao tombamento, não representa, obviamente, toda a família, que é numerosa e no momento discute um processo de inventário do qual a casa é parte integrante. Posso afirmar, contudo, que meus irmãos Bianca e Bruno Chemin estão igualmente felizes e torcendo pela aprovação, assim como meu pai José, este sim, herdeiro direto, que manifestou em mais de uma oportunidade, orgulho em saber do reconhecimento público do valor cultural, arquitetônico, patrimonial e artística da casa. Pois bem, a casa é sim uma casa de sonho, graciosa, amável, de memória, com porão, sótão, mistérios. Para nós, representa um conjunto de grande valor, que se estende aos jardins lateral, frontal e dos fundos, com roseiras, o pé de camélias e tantas outras plantas sempre cuidadas com muito carinho. Há, também, poço junto da janela da cozinha, as portas de duas folhas que permitem trânsito cruzado entre os cômodos, as janelas de guilhotina, a escada bastante inclinada que leva ao sótão, a vista privilegiada do Meneleu. São muitos os atributos e são fartas as boas memórias. Dias atrás a casa teve uma fotografia postada em uma rede social. Foram dezenas de relatos carinhosos sobre a sua beleza. Algumas pessoas enfatizaram sua importância como referência da rua Theodoro Rosas e também um marco do caminho de quem ‘vem pela rua da estação, e passa pela antiga Pão Quente’. Ela tem uma representação na arquitetura de madeira que pode lhe projetar como uma das principais referências da região sul do Brasil. Ponta Grossa perdeu muitos patrimônios de grande valor para interesses imediatistas e cálculos imobiliários simplórios. Um ‘objeto’ tombado muda sua lógica, ele deixa de ser um mero imóvel e se torna um bem. A casa da Theodoro Rosas é um bem cultural necessário e estratégico. Espero de coração que este conselho tenha a disposição efetiva de preservá-lo e peço, naturalmente, o voto favorável de vocês e de todos os conselheiros, a quem podem replicar esta singela mensagem.’ Assina, Dr. Marcelo Chemin, professor Doutor da Universidade Federal do Paraná.  O conjunto arquitetônico das casas de madeira da cidade deve ser protegido para que se permaneça registrado, na paisagem urbana, pois representam a identidade e a memória de grupos formadores da sociedade brasileira. Nesse contexto a expressão da arquitetura do imigrante, representada aqui, pela Casa Amarela, pode ser considerada um marco da paisagem da cidade, pois atua como monumento em meio ao restante do espaço urbano, retratando um período importante no desenvolvimento de Ponta Grossa. Além disso, salienta-se que o Plano Diretor Municipal foi encaminhado para a Câmara Municipal de Ponta Grossa, incluindo os projetos de lei dos instrumentos do Estatuto da Cidade que auxiliam a preservação do patrimônio, entre eles, a Lei de Transferência do Direito de Construir. Essa lei foi concebida de modo a permitir que os proprietários de imóveis a serem preservados fossem compensados pelo fato de que em seus imóveis o coeficiente ou densidade básicos estabelecidos para o território urbano não podem ser atingidos. Em 2017, a cidade de Ponta Grossa tinha mais de 1.450.000m² de potencial construtivo desperdiçado. Se estabelecêssemos um valor base, que foi discutido durante a elaboração do Plano Diretor, de R$ 500,00 o m² de potencial construtivo, considerando principalmente que os imóveis inventariados e tombados estão em áreas muito valorizadas da cidade, nós teríamos um montante de 725 milhões de reais para as famílias proprietárias de imóveis tombados em Ponta Grossa. Na Casa Amarela, objeto da presente discussão, teríamos mais de três milhões de reais, que poderiam ser revendidos a cada vinte anos e fariam com que a família proprietária tivesse plenas condições de manter o imóvel bem conservado. O tombamento de uma edificação não pode ser identificado apenas pelas restrições construtivas impostas pela legislação vigente, mas como uma forma de transmitir a história da cidade, da população e de seus costumes. A valorização do patrimônio cultural só é atingida plenamente quando a população se apropria de sua história, quando as edificações tombadas fazem parte do dia a dia dos cidadãos e quando a prática do tombamento é vista como a melhor forma de estabelecer um diálogo entre o passado e o futuro da cidade. Nesse contexto, é urgente a preservação das casas de madeira. Por tudo que consta no processo, fica clara a necessidade de preservação e conservação do referido imóvel, que merece ter seu valor cultural reconhecido através do tombamento do município”. O Presidente informa que na data de hoje o departamento recebeu um comunicado do procurador, informando que não poderia estar presente na sessão, e solicitando a transmissão ao vivo para que pudesse participar, entretanto, foi informado de que não seria possível em virtude da estrutura indisponível para lhe atender. O Presidente passa a palavra aos proprietários, ou representantes do imóvel, que queiram se manifestar. Sem manifestação da parte interessada, é passada a palavra aos presentes na plateia. A professora Gabriela menciona o fator da afetividade urbana; as casas de madeira estão sempre muito presente na memória; muitos teriam o que falar sobre as avós, as tias, sobre as casas de madeira que alguns moraram e que, certamente, faz parte da identidade do município. Isso possibilita com que as pessoas se reconheçam como cidadãos, sendo assim, pede para que os conselheiros considerem a questão da afetividade urbana e o apego emocional. Uma acadêmica se manifesta sobre a importância do imóvel; que em conversa com um de seus proprietários, este demonstrou interesse no seu tombamento, pois possui muito carinho pela casa; ela acrescenta que o imóvel precisa de alguns reparos, mas que isso não interfere na sua relevância. Sem mais manifestações, o Presidente procede a votação para o tombamento do imóvel situado à Rua Theodoro Rosas, nº 64, sendo deferido por dez votos favoráveis e um contrário. O Presidente registra que, todos os presentes, participaram de um momento histórico, pois é a primeira Sessão Pública em que todos os imóveis em pauta foram tombados, em que o primeiro imóvel modernista de Ponta Grossa foi tombado, e com a primeira praça tombada. O Presidente agradece a presença de todos e declara encerrada a sessão, às vinte horas e trinta e cinco minutos. Encerrada a Sessão, foi lavrada a presente ata que, após lida e achada conforme, vai assinada pelos presentes. Do qual eu, Carolyne Abilhôa, faço contar e dou fé.

Alberto Schramm Portugal___________________________________________________

Antonio Carlos de Mario____________________________________________________

Bernardo Fonseca Marcondes________________________________________________

Bianca Camargo Martins____________________________________________________

Brenda Ascheley de Morais Ferreira___________________________________________

Carolyne Abilhôa __________________________________________________________

Cristina Donasolo__________________________________________________________

Elizabeth Johansen________________________________________________________

Elton Fabio Pietrochinski____________________________________________________

Johnny Willian Pinto________________________________________________________

Kathleen Alessandra Coelho de Andrade Villela de Biassio_________________________

Márcia Maria Dropa________________________________________________________

Rafael Lemos de Sousa______________________________________________________ Vicente Nadal Neto_______________________________________

Rolar para cima