A FESTA DE NANÃ BURUKÊ NO LAGO DE OLARIAS
A Deusa do Lago e seu Ojubó
Essa confluência devocional entre Sant’Anna e Nanã Burukê foi materializada em 26 de julho de 2023, durante as comemorações dos 200 anos de Ponta Grossa, com a realização da cerimônia do Ojubó de Nanã no Lago de Olarias. A sacralização inicial do Ojubó, no Ilê Axé Ogum Goolu, ocorreu em 05 de maio de 2023. Durante esse período, o Ojubó foi cultuado em diversos templos de Candomblé, Umbanda e Quimbanda, até ser depositado liturgicamente no Lago de Olarias no dia 26 de julho, uma data marcada pela devoção sincretizada de Nanã e Sant’Anna.
Esse evento representou a união entre o cristianismo e as religiões de matriz africana, em um sincretismo que promoveu o respeito mútuo, derrubando barreiras e preconceitos religiosos. A celebração trouxe uma nova perspectiva de paz, união e cooperação inter-religiosa.
O Ojubó, também chamado de Igbá, consagrou o Lago de Olarias como ponto de força de Nanã Burukê. Ele era formado por uma pedra consagrada, chamada fetiche, que foi lavada com o sumo de ervas sagradas de Nanã (como gervão, erva-de-bicho, alfavaca, manjericão e poejo). Após essa lavagem, o Ojubó recebeu o sangue de uma galinha-de-Angola. Em seguida, artefatos de barro e outros elementos sagrados também foram purificados nesse banho, sendo montados ritualmente para ativar o axé da Orixá e consagrar o local.
A Consagração do Lago
As cerimônias de assentamento do Ojubó começaram na tarde de 26 de julho de 2023. Saindo do Palácio de Maria Padilha, o Ojubó foi levado em cortejo ao Parque Ambiental, onde foi cultuado por diversos templos afro-brasileiros no evento do Movimento Cheiro de Axé. Após essa celebração, o Ojubó foi transportado ao Lago de Olarias, onde foi louvado com cânticos dedicados a Nanã. Colocado em uma embarcação, o Ojubó foi levado ao centro do lago e submerso, onde permanece como um polo energético de Nanã Burukê.
O ato repercutiu local, nacional e internacionalmente, especialmente entre os seguidores das religiões afro-brasileiras. Foi reconhecido como o terceiro local de consagração pública de um ponto de força dedicado aos Orixás, junto com o Dique de Tororó e a Pedra de Xangô em Salvador e as Gameleiras de Curitiba. A notícia da consagração chegou até a África, mais precisamente à aldeia de Dassa-Zumé, no Benin, de onde o culto a Nanã se originou.
A Festa de Nanã
A consagração do Lago de Olarias não se esgotou com o assentamento do Ojubó. O local continua a receber oferendas periódicas e celebrações em homenagem a Nanã. Está prevista a criação de dois marcos de pedra: um à beira do Lago em homenagem a Nanã e outro em local próximo, dedicado a Senhora Sant’Anna, padroeira de Ponta Grossa. Além disso, uma festa anual em louvor a Nanã Burukê será realizada no dia 26 de julho, unindo o Candomblé, Umbanda e Quimbanda.
A Peregrinação: Fé e Auxílio
Conforme a tradição oral das religiões de matriz africana, Nanã Burukê foi a primeira Iabá (Orixá feminina), com um culto anterior à Idade do Ferro. O nome Nanã significa raiz, simbolizando sua conexão com o centro da terra. Ela foi responsável por fornecer o barro fértil para Oxalá moldar o corpo humano, posicionando Nanã no cerne da criação humana. Por isso, seu culto é associado aos cuidados maternos com o corpo e o espírito de seus devotos.
Como mãe de Obaluaê, Oxumarê, Iansã e Ossaim, Nanã possui uma devoção que permeia o culto de outros Orixás. O ponto de força de Nanã no Lago de Olarias já está se consolidando como um local de peregrinação para seus fiéis e tende a se tornar um dos principais espaços de turismo religioso em Ponta Grossa, não apenas durante sua festa anual, mas ao longo de todo o ano.