Era madrugada, o sol não demoraria a nascer e a gralha ainda estava acomodada no galho onde passara a noite, quando acordou com a batida aguda de um machado e o gemido do pinheiro. Era o lenhador golpeando a árvore para transforma-la em tabuas. Quantos anos levou a natureza para que o pinheiro atingisse aquele porte majestoso e agora, em poucos minutos, estaria estendido no solo e pronto para ir a serralheria. As pancadas pareciam repetir no coração da gralha. Num momento de desespero e simpatia, partiu em voo vertical, subiu muito além das nuvens para não ouvir mais os estertores do pinheiro amigo. Lá nas alturas escutou uma voz cheia de ternura: – Ainda bem que as aves se revoltam com as dores alheias. A gralha subiu ainda mais na imensidão. Novamente a mesma voz: – volte avezinha bondosa, vai novamente para os pinheirais. De hoje em diante eu a vestirei de azul da cor deste céu e ao voltar ao Paraná, você vai ser minha ajudante, plantará os pinheirais.
A gralha por alguns instantes atingiu as alturas e por surpresa, onde seus olhos conseguiram ver seu próprio corpo, observou que estava todo azul. Somente ao redor da cabeça, onde não enxergava, continuou preto. Ao ver a beleza de suas penas da cor do céu voltou celebre para os pinheirais iniciando seu trabalho de ajudante. Tão alegre ficou que seu canto passou a ser um verdadeiro alarido que mais parecia com vozes de crianças brincando. O pinheiro é símbolo de fraternidade. Ao comer o pinhão, tira-lhe primeiramente a cabeça, para depois, a bicadas, abrir-lhe a casca. Nunca esquece de antes de terminar seu repasto, enterrar alguns pinhões com a ponta para cima, já sem cabeça, para que a podridão não destrua o novo pinheiro que dali nascerá. E os pinheiros foram crescendo. Do pinheiro nasce a pinha, da pinha nasce o pinhão… Pinhão que alegra nossas festas, onde o regozijo barulhento é como um bando de gralhas azuis matracando nos galhos altaneiros dos pinheirais do Paraná. Seus galhos são braços abertos, repetindo às auras que embalam o meu convite eterno: Vinde a mim todos…