Mansão Villa Hilda
A Mansão Villa Hilda, imponente casarão da paisagem pontagrossense, foi construída na década de 1920, tendo seu projeto iniciado em 1922 e sua finalização em 1926. Sua arquitetura em alvenaria possui influência francesa do estilo neoclássico com elementos “art-nouveau”.
Sendo a Mansão Villa Hilda um exemplo desse período, construída em alvenaria, por Alberto Thielen proprietário da Cervejaria Adriática, recebeu a denominação de Villa Hilda, em homenagem a sua esposa Ida Hilda Schust Thielen, que buscou por meio da arquitetura da edificação expressar o amor que tinha por Hilda. A expressão Villa (com dois L’s) é utlizada para referir-se a mansões com jardins nos quatro lados. O termo tem origem na ltália, e seguia-se do nome do morador.
A casa está organizada em 3 pavimentos, o primeiro é o porão, local que servia de morada e salas de trabalho dos empregados da casa; o segundo pavimento local de residência da família e o torreão que abrigava sótão e mirante, seguindo a influência europeia dos palacetes e castelos. Todos os cômodos do segundo pavimento são decorados com afrescos pintados pelo artista de origem alemã Paulo Wagner, com motivos florais, cores intensas e simbologias que remetem a origem dos proprietários, como a reprodução do quadro “Kreuzritter auf dem weg zur goldenen kirche” (Cruzados a caminho da igreja dourada) do artista alemão Eduard Horst.
A propriedade da família Thielen foi comprada pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa em 1968, sediando a Biblioteca Pública Professor Bruno Enei, marcando gerações de pontagrossenses que utilizaram este espaço. Em 1990 a mansão foi tombada como Patrimônio Cultural do Estado do Paraná (Livro tombo nº 99-11/90). Entre os anos de 1995 e 1996 a casa passou por um intenso restauro, resguardando sua identidade e recuperando suas características originais. A casa também abrigou durante certo tempo a Fundação Municipal de Cultura e hoje é o espaço do Museu Municipal.
Está organizada em 3 níveis: porão alto, o pavimento principal e o torrão. Sua entrada nobre faz-se por uma escada externa ligando o jardim à varanda, colocada na esquina esquerda da casa. Essa disposição, inusitada, se soma a várias outras singularidades da concepção arquitetônica, como o jogo orgânico de reentrâncias e saliências de volumes de alturas variadas. O vocábulo ornamental é eclético: o bloco de embasamento corresponde ao porão alto, tem os parâmetros externos revestidos à bossagem, já o principal é decorado com aplicações de massa em alto-relevo, com inspirações florísticas: a guirlanda sob as janelas e frisos de flores encadeadas sob a cornija superior. Nota-se nítida influência do repertório formal do art nouveau na composição dos vãos abertos para a sacada do torreão lateral e nos adornos florais de canto das demais janelas. O telhado adapta-se à dinâmica volumétrica desdobrando-se em múltiplos planos revestidos por telhas francesas. O torreão principal é coberto por cúpula arretada, revestida por telhas escamadas, interrompida por óculos salientes e coroadas por pequeno mirante avarandado.
Restauro
O projeto de restauração foi desenvolvido pelos arquitetos da Secretaria de Estado da Cultura e propôs a recuperação dos espaços e dos vãos originais, que haviam sido modificados à medida que o edifício recebe novos usos. O trabalho de restauração do bem foi bastante cauteloso, pois a situação física do imóvel era muito precária. As pinturas artísticas realizadas pelo pintor Paulo Wagner nas paredes e tetos das salas do andar superior da Mansão estão enquadradas em duas técnicas de realização, tanto na metodologia quanto na aplicação de materiais. Em todas as salas de um modo geral o artista desenvolveu um trabalho de pintura a base de “máscara”, a qual pode-se designar tecnicamente como uma reprodução, considerando que os desenhos e pinturas partem de uma matriz. Este detalhe pode ser observado em todos os elementos repetitivos, inclusive nos anjos representados no forro da sala rosa, onde nota-se pequena modificação proposital nos movimentos das pernas, braços e nas cores de pele e dos cabelos. Outra técnica empregada foi na execução de paisagens pintadas à óleo, consideradas únicas, sendo assim mais importantes por se tratarem de pintura artística.
O trabalho de restauração do bem foi bastante cauteloso, pois a situação física do imóvel era muito precária. Para a execução das obras, foram realizados os seguintes serviços:
– Substituição total dos elementos da cobertura resguardando, porém, as dimensões e materiais similares aos originais, que não mais poderiam ser recuperados;
– Consolidação dos afrescos de estuque com a utilização de técnicas atuais, utilizando fibras e resinas sintéticas;
– Recomposição de todos os pisos e respectivas estruturas do 1º pavimento, do térreo, do sótão e do torreão;
– Restauração das esquadrias externas e internas, da escadaria de mármore do acesso principal, dos elementos de ferro da torre e dos guardas- corpos da escada e da varanda do primeiro pavimento;
– Restauração do muro frontal;
– Restauração da fonte;
– Execução de instalações sanitárias adequadas, no mesmo espaço onde se encontravam originalmente;
– Execução de novas instalações elétricas e hidráulicas;
– Restauração da garagem;
– Execução da vedação nova nas varandas posteriores do 1.º pavimento e do térreo adequando-as ao uso do edifício;
– Recomposição dos elementos decorativos das fachadas;
Recomposição de toda a cobertura da torre, paredes, telhado, revestimento interno e elementos de arremate da cobertura;
– Recuperação do jardim, baseado em projetos paisagísticos que buscou valorizar o edifício em seu espaço;
– Recuperação de pintura externa, realizada após minuciosa pesquisa sobre as diversas camadas de tinta lá existentes, chamados cortes estratigráficos, e baseada em informações iconográficas – fotos – que nos conduziu às cores mais próximas às originalmente utilizadas na mansão.
A Família Thielen
A história da Família Thielen tem início no século XIX, com o imigrante alemão Henrique Thielen. Nascido no ano de 1868, chegou ao Brasil e morou em algumas cidades do Paraná, tais como Curitiba, Lapa, Antonina e Morretes, e por último, em Ponta Grossa. Antes de abrir a Cervejaria Adriática, trabalhou na filial da Cervejaria Grossel, tornando-se proprietário do local e, posteriormente, a transformando na Fábrica Adriática de Cervejas. Foi na cidade, também, que conheceu Alvina Elmer Thielen, mãe de seus cinco filhos, sendo eles: Alberto, Alvino, Marichen, Clara e Ida.
O primeiro, tornou-se sócio e proprietário da Adriática, quando retornou da Alemanha, onde aprendeu outras técnicas da produção cervejeira que foram utilizadas na fábrica. Além das bebidas, na década de 1930, a mãe de Alberto, vendia fermento utilizado para receitas dos famosos cuques alemães, aos quinhentos réis da garrafinha. Nesse período, a indústria se tornou uma das maiores do Paraná, dando visibilidade ao município no século XX.
Ele foi responsável pela construção da Mansão Vila Hilda, na década de 1920, que leva o nome de sua esposa, como forma de homenagem a ela. Alberto, Ida Hilda Schust Thielen e seus filhos, Alberto Henrique Thielen e Rodolfo Francisco Thielen, se mudam para o local quando adquirem o terreno localizado na região central de Ponta Grossa, entre as ruas Júlia Wanderley e Coronel Dulcídio. Também moravam na casa, alguns funcionários que trabalhavam para a família, na manutenção e limpeza do espaço.
Tanto o pai, Henrique, quanto o filho, Alberto foram presidentes do Clube Germânia Guaíra. Henrique foi o primeiro presidente do local, no final do século XIX, mais precisamente em 1896, quando foi feito o registro da criação do Clube. Nesse momento, foram fundados também a Igreja Luterana Bom Pastor e a Escola Alemã. Ambas possuíam ligação direta, tendo como principal objetivo, a defesa da cultura alemã, utilizando o idioma de forma obrigatória nas reuniões, no teatro, nas canções e na leitura de livros e revistas. Essa proposta mudaria anos mais tarde, com a presença do filho, Alberto, na presidência, em 1935. Em sua gestão, houveram algumas mudanças, não só na estrutura da sede que abrigava o Clube Germânia Guaíra, (que passou a ser de alvenaria, onde ele auxiliou financeiramente a construção), mas também no estatuto, como a abertura dos espaços para outros grupos étnicos, principalmente a brasileiros e não descendentes de alemães, já que antes o local era restrito.
A inauguração da nova sede contou com diversas personalidades importantes, como o prefeito da época, Albary Guimarães e representantes de outros clubes sociais, sendo eles: Newton de Souza e Silva (Clube Pontagrossense), João Cecy Filho (União Síria) e Thadeu Alves, diretor da Empresa Nacional de Construções.
Alguns anos mais tarde, devido à grande influência da Família Thielen e ao sucesso da Cervejaria Adriática, Alberto assume a presidência da Associação Comercial e Industrial de Ponta Grossa, de 1945 – 1946, momento final da Segunda Guerra Mundial, o que resultou na busca pela retomada da economia, principal aspecto afetado nesse período, o que também refletiu na Cervejaria Adriática, já que muitas pessoas afirmam que a venda da mesma se deu devido à ausência dos ingredientes no mercado para a produção da cerveja, sendo comprada então pela Antarctica. Assim, a família permaneceu na Mansão Vila Hilda até a década de 1960, pouco tempo após a morte de Alberto, em 1958. Hilda Thielen saiu da casa e foi morar no Edifício Marieta, localizado na Avenida Vicente Machado, onde ficou até 1972, ano de seu falecimento.
A contribuição dos Thielen para Ponta Grossa não está somente na Cervejaria Adriática, mas sim na economia e identidade pontagrossense, que no século XX, estava inserida em um processo de desenvolvimento e de industrialização urbana. Além disso, a preservação e a promoção de atividades ligadas ao setor cultural contribuíram para o crescimento da cidade, que passou a ser notada por outros municípios, os quais começaram a investir em Ponta Grossa, vista como uma grande potência industrial até hoje.
Endereço: R. Júlia Wanderley, 936 – Centro, Ponta Grossa – PPR
Funcionamento: De Segunda a Sexta, das 09:00h às 17:30h. Sábados das 10:00 às 15:00h.
Contato: 3220-1000 (ramal 2096)
E-mail: casadamemoria_pg@hotmail.com