Comércio e Ofícios: Desenvolvimento e Trabalho em Ponta Grossa
Em Ponta Grossa, principalmente nas regiões centrais, é possível visualizar a existência de variados estabelecimentos comerciais, que refletem o rápido desenvolvimento da cidade no século XX, onde ainda se ouvia o barulho dos trens e dos cavalos na Avenida Benjamin Constant e se podia observar as entregas da erva mate na Hervateria Júpiter, propriedade de Adalberto Araújo. Boa parte do comércio pontagrossense foi estimulado pela malha ferroviária – que favoreceu a circulação de mercadorias e na contratação de trabalhadores – e pela chegada dos imigrantes, o que resultou também na expansão da cidade. Com isso, o município passou a constituir uma vida urbana intensa: áreas residenciais começaram a fazer parte das paisagens, consolidando um núcleo urbano mais denso. Cinemas, praças, cafés e outras atividades colaboraram para o distanciamento de um modelo ruralista presente no século anterior, para a modernidade. As áreas rurais em lotes urbanos e o surgimento de casas comerciais transformaram essa região em um importante eixo de desenvolvimento econômico: nesse momento, a paisagem não era composta somente por construções residenciais, mas também por diversas atividades comerciais e industriais.
No ano de 1922, a cidade possuía mais de vinte mil habitantes e era a segunda do Estado do Paraná em importância com benefícios vistos como modernos, tais como a ferrovia, a luz elétrica, o telefone, o calçamento nas ruas centrais e a água encanada. Além disso, o município já contava com mais de 2000 prédios habitados e 400 estabelecimentos comerciais e industriais, como a fábrica de banha, do complexo industrial Matarazzo e a Cervejaria Adriática, de Henrique Thielen.
Era possível contar mais de 40 casas atacadistas, que recebiam produtos do exterior e de grandes cidades brasileiras. Esses comércios estavam, na maioria dos casos, situados na Rua Balduíno Taques, como a Casa Comercial Justus, onde atualmente funciona a Droga Raia. O local era ponto de passagem e de chegada de carroções carregados de erva mate.
Em meio a tantos produtos, eram comercializados também, couro, tecidos, alimento louças, bebidas, porcelanas, madeiras, perfumes, medicamentos, café, velas e sabão. Nesse momento, Ponta Grossa era a maior cidade do interior do Paraná, com 20.171 habitantes e se consolidava como uma das mais importantes do Estado, em âmbito econômico. De acordo com dados do Álbum do Paraná, estima-se que, em 1925, pagaram licença para funcionamento na Prefeitura, 21 alfaiatarias, que prometiam qualidade e produtos luxuosos: a loja Águia de Bronze, de propriedade dos Irmãos Macedo e situada na rua Sete de Setembro, além de roupas, vendia chapéus da conceituada Marca Prada. Até mesmo as joalherias Gravina e Romano anunciavam que suas peças poderiam ser personalizadas conforme o gosto do cliente.
Com a ferrovia e a ideia de progresso e modernidade, já mencionadas anteriormente, além de cinemas, cafés e bares, foi criado também um jornal (nomeado, primeiramente como O Progresso e, depois, como Diário dos Campos). O surgimento desses novos empreendimentos resultaram nas transformações dos hábitos e dos modos de vida da sociedade, bem como do cotidiano ponta-grossense.
A elite passou a ter maior preocupação com a qualidade de vida e com o que queriam transmitir aos outros moradores e visitantes do município, inclusive na forma de se vestir, na construção de novas residências e nas tecnologias oferecidas nas diferentes áreas, sendo as duas principais a indústria e âmbito da saúde – dois campos que se vinculavam diretamente com as questões políticas do município.
Dentro dessas preocupações em relação à qualidade de vida, estavam as questões envolvendo saúde pública e higiene, um movimento que já se desenvolvia de forma tensa no Brasil desde o final do século XIX.
Com a ferrovia diversos médicos desembarcaram em Ponta Grossa, atraídos tanto pelo potencial financeiro da cidade, quanto pelo discurso sanitarista de remodelar a área urbana associada a uma harmonia estética e social.
Alguns nomes se destacam nesse setor na primeira metade do século XX, como Francisco Burzio, Abraham Glasser, David Federmann, Jamil Mussi, Dino Colli, Joaquim de Paula Xavier, Joaquim Loyola entre outros, nomes que além de se vincularem a área médica, também atuaram nos setores políticos e educacionais da cidade, atuando como deputados, prefeitos, em associações educacionais e culturais. Homens, detentores de um vasto capital político e econômico, que foram considerados responsáveis pela fundação de instituições médicas de renome como o Hospital 26 de Outubro e a Santa Casa de Misericórdia, além da implementação da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Ponta Grossa (1936) e Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ponta Grossa (1946).
Mesmo com a presença de estabelecimentos comerciais dos mais diversos tipos, algumas moças e rapazes ainda preferiam se deslocar até outras cidades em busca dos trajes ideais para comporem seus estilos, pois lugares de passeio não faltavam em Ponta Grossa: fosse para frequentar os cinemas e lotar as sessões do Renascença, carinhosamente apelidado como “Rena”, o primeiro cinema sonoro do Paraná; ou participar das festas e dos jantares promovidos pelas Igrejas e Clubes Sociais, acompanhar os cortejos carnavalescos e apresentações musicais e realizar apostas nas corridas de cavalos no Jockey Club Pontagrossense; caminhar pela Rua XV de Novembro, a mais boêmia da cidade nessa época, ou até mesmo, tirar uma foto nos estúdios de Luiz Bianchi, de Evaldo Weiss, ou no Photo Moderna de Miguel e Ana Herdage, ambos localizados na região central do município.
Outro costume bastante comum para as famílias mais abastadas da cidade, era reunir-se nas casas de amigos e familiares para ouvir a Rádio Clube PontaGrossense, afiliada à emissora PRJ2 de Manoel Machuca e Abílio Holzmann, em 1939. Ouvir o programa de Daisy Durski, na década de 1950, nomeado como “Gentilezas das Comadres”, era a programação perfeita de todas as manhãs. De caráter “acaipirado”, as comadres Maria e Daysi traziam notícias de todo o Estado, além de comunicados e músicas sertanejas. Nesse momento, havia no município mais de 3.200 rádios e 46.130 habitantes, visto que o aparelho era extremamente caro, sendo o principal meio de entretenimento e informação para as elites.
Assim, devido a sua localização geográfica e com uma grande variedade de estabelecimentos, que Ponta Grossa se mantém ainda como uma das cidades mais importantes do Paraná, sendo a 4ª maior do Estado, com 358.367 habitantes (IBGE, 2022). Com o passar dos anos, novas casas comerciais e indústrias se estabeleceram e novas mudanças nas paisagens urbanas foram surgindo. A Avenida Vicente Machado, antigamente conhecida como “Rua do Comércio”, continua concentrando grande parte das lojas da região central, em toda a sua extensão.
Algumas casas comerciais ainda permanecem, como as Lojas Maxitango, antigamente conhecidas como “Casa Juanita” e “Tango”, da tradicional família Sallum. Outros, permanecem vivos somente na memória dos moradores que vivenciaram a antiga cidade de Ponta Grossa e compartilham, através de fotografias, suas memórias e histórias do passado, resultado daqueles que aqui estavam e dos que aqui se estabeleceram e fizeram com que a “Princesa dos Campos Gerais” fosse símbolo de trabalho e resiliência.
Itens do acervo:
Endereço: Rua Júlia Wanderley, 936 – Centro, Ponta Grossa – PR
Funcionamento: de segunda a sexta das 09 às 18h
Contato: 3220-1000 (ramal 2096)
E-mail: casadamemoria_pg@hotmail.com